quinta-feira, 15 de junho de 2017

Cristo, o Corpo de Deus




Num jardim, vejo as flores
a saltar da terra virgem. E um perfume forte
inebria um Corpo. O do Deus vivo.
Um Corpo que renasceu, depois de morrer.

Viveu na sabedoria, envolto em voz.
Junto dos corpos pôs fim ao sofrimento.
Junto das almas iluminou os pensamentos.
Não acenou, soberbo, às multidões.
Não recebeu aplausos nem distinções.

Encheu de sentidos novos cada pessoa.
Cansado, sentiu a fadiga a curvá-lo.
Orando a cada instante, não adormeceu
ante os males de tanta gente.

O Corpus Christi oferecia a clemência
aos que se arrependiam, dava a alegria aos amargurados,
curava as dores dos mais flagelados.

O Corpo de Cristo respirava a contingência
e espargia o Amor do Pai. Sentia a beleza da
Virgem Maria, a Sua Mãe.
E transparecia toda a Palavra do Espírito,
a Sua essência.

Cristo, o Corpo de Deus aí está, a guardar-se ainda,
escondendo-se no Seu Coração sagrado e infinito.

Dia do Corpo de Deus, 15/6/2017
                                            Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 13 de junho de 2017

Oração de Santo António a Maria Santíssima


Santo António pregando aos peixes
Azulejo de faiança policromada do século XVII,
Museu da Cidade, Lisboa


Nós Te suplicamos, Senhora nossa,
insigne Mãe de Deus,
elevada sobre o coro dos anjos,
que enchas de graça celeste o nosso coração,
o faças resplandecer com o ouro da sabedoria,
o fortaleças com a tua força,
o adornes com as pedras preciosas das virtudes.
Ó bendita Oliveira,
derrama sobre nós o óleo da tua misericórdia,
para que cubra a multidão dos nossos pecados,
e assim sejamos elevados à altura da glória celeste
e possamos gozar a bem-aventurança dos santos,
com o auxilio de Jesus Cristo, teu Filho,
que Te exaltou sobre os coros dos anjos
e Te coroou com o diadema do Reino,
sentando-Te no trono da luz eterna:
a Ele, honra e glória pelos séculos eternos.

Santo António de Lisboa (1195-1231)



Santo António ressuscita a menina morta


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Santo António


«Tudo quanto pedirdes com fé, na oração, recebê-lo-eis»
Mt 21,22

«Se vós estiverdes em Mim e as Minhas Palavras estiverem em vós, 
pedireis tudo o que quiserdes e ser-vos-á concedido»

Jo, 15, 7


Batizado com o nome de Fernando de Bulhões, tomaria, já em Itália, o nome de António. Formado na escola dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, em Coimbra, ambicionava ser missionário. Viajando para a Mauritânia para evangelizar essas terras, regressava a Portugal por ter caído doente, quando o barco, devido a uma tempestade, o levou para Itália, onde acabou por se curar. Contudo, não regressaria a Portugal. Tendo morrido em Pádua, em 1231, com apenas 39 anos, foi canonizado pelo Papa Gregório IX, apenas um ano depois.

Entre os seus milagres em vida, estão a ressurreição de uma menina e a cura de uma amputação. As suas pregações eram ricas de dotes oratórios; o seu amor aos pobres e a todos aqueles que via serem vítimas de injustiça, tornaram-no um franciscano de carisma idêntico ao de S. Francisco de Assis que conheceu pessoalmente. 

Com o espírito de Francisco se identificava no sentido pleno da fraternidade e da grande devoção à Virgem Maria. Pela iconografia conhecida de Santo António, o Menino Jesus, símbolo magnífico da ternura, da simplicidade e da humildade da criança, está sempre entre as suas mãos e sob o seu olhar doce e delicado. A esta iconografia não deverá ter sido estranha a sua visão seráfica do Menino Jesus.

Lisboa, 13 de Junho de 2017 (786º aniversário da morte de Santo António em Pádua)


Teresa Ferrer Passos  

Santo António e a visão do Menino Jesus

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sábado, 10 de junho de 2017

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas no mundo


No dia 10 de Junho de 1580 morria Luís de Camões, o príncipe dos Poetas da Europa. Foi ele que cantou, em versos de altura insuperável, a verdadeira dimensão das aventurosas viagens de descobrimento de Portugal por um mundo ainda tão ignorado.
Um mundo novo começara a erguer-se com os sábios da arte da navegação e com a grande frota naval das caravelas. Tudo se tornou diferente no ano de 1419, ano da primeira descoberta: a ilha a que chamaram da Madeira. E quantas ilhas depois para o Ocidente da costa atlântica de Portugal e quantas para o sul da África e para o seu Ocidente, com o descobrimento do novo continente, a que se chamaria América do Sul.
O país mais ocidental da Europa, essa faixa atlântica da Península Ibérica, Portugal, projectava-se no Atlântico profundo, depois no Índico guerreiro e ainda no fabuloso Pacífico de tantas diferenças. Ao longo do século XV, os mares cruzava e oferecia à Europa novos povos, novas geografias, novas riquezas.
Os portugueses, tornavam nova a sua velha Europa, os seus povos, cheios de surpresa e já a vislumbrar auspicioso futuro. E toda a Europa se renova e se quer confrontar com o país descobridor, a começar por Espanha. E muitos, os maiores, seguem a estrada aberta pelos portugueses: nos mares dos progressos ainda distantes e nas terras da prosperidade logo sonhada, penetram sem olhar para trás.
Teresa Ferrer Passos

Escrevia Camões em «Os Lusíadas» (Canto V, 3-4 e 86):
«Já a vista, pouco a pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficaram;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam,
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam,
E já despois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.
Assi fomos abrindo aqueles mares,
Que geração alguma não abriu,
As novas Ilhas vendo e os novos ares.
Que o generoso Henrique descobriu;
De Mauritânia os montes e lugares,
Terra que Anteu num tempo possuiu,
Deixando à mão esquerda, que à dereita
Não há certeza doutra, mas suspeita.
(...)
Julgas agora, Rei, se houve no mundo
Gentes que tais caminhos cometessem?
Crês tu que tanto Eneias e o facundo
Ulisses pelo mundo se estendessem?
Ousou algum a ver do mar profundo,
Por mais versos que dele se escrevessem,
Do que eu vi, a poder de esforço e de arte,
E do que inda hei-de ver, a oitava parte?»

sábado, 3 de junho de 2017

Recriar o mundo em Cristo, aceitação radical de Maria

Dom Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa,
no Colóquio Comemorativo do 1º Centenário das Aparições de Fátima 


  «Quando a tradição católica diz “imaculada conceição” e “imaculado coração”, exprime a convicção de que Deus criou e encontrou sempre alguém em que pôde incarnar o seu Verbo e aparecer neste mundo, como que uma nova terra onde nascesse o homem novo, Jesus Cristo.

  Por isso “cheia de graça” e constante “sim” à vontade recriadora de Deus. Estar do lado de Deus, para recriar o mundo em Cristo, é por isso estar com Maria e o seu coração imaculado. É aceitar e cumprir o Evangelho vivo. 

   Tendo tudo isto presente, poderemos entrever como o que se passou há um século com os Pastorinhos se insere na visão bíblica das coisas e na maneira católica do respetivo acontecer.

   A vontade de um Deus que não desiste de recriar o mundo em Cristo e a aceitação radical de Maria em incarnar tal vontade.» 

Fátima, 27 de maio de 2017

     Manuel Clemente, «Fátima no contexto do catolicismo contemporâneo» in Colóquio Comemorativo dos 100 anos das Aparições de Fátima (Internet, Patriarcado de Lisboa)