terça-feira, 1 de março de 2016

PÁSCOA



DOSSIER

PÁSCOA/2016

«Cordeiro de Deus» de Mestre Theodorick
(séc. XV)



REVELAÇÃO TARDIA

«O Calvário» de Karel Dujardin (1661)

Eu vi as cruzes do Calvário,
Bem alto, por cima do altar:

O Cristo, ao centro;
À esquerda, o mau ladrão;
À direita, o ladrão bom.

Quando os meus olhos melhor se habituaram
À estranha luz daquele fim de tarde
Percebi que as cruzes não centrais
Sombras eram ambas da primeira.

16/3/2016


                          Fernando Henrique de Passos




***

O Pai de Jesus 

Jesus, aos 12 anos, entre os doutores,
no Templo de Jerusalém


«Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procuraTrês dias depois, encontraram-n'O no Templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas.

Todos quantos O ouviam, estavam estupefactos com a Sua inteligência e as Suas respostas.

Ao vê-l'O, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura!»

Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» 

                                                                                Lc 2, 45-49


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CRISTO


«A Crucificação» de
Bernardo Daddi
(1290-1348)


«[...]Por que não ficou morto no Calvário, 
apodrecendo aos Astros indiferentes?
Por que veio acabar para o meu quarto,
com estes olhos suaves que me acusam,
com estes lábios tristes que me pedem
que O não deixe morrer tão sem razão?

Tem quase dois mil anos o meu quarto.
E em mais de mil das noites destes anos
eu apaguei a vela p'ra não ver
a agonia do Cristo, que me acusa.

Mas Ele rasga a escuridão da Noite.
Mas Ele rasga o sono em que me oculto
e vem, solto da cruz a que o prendi,
continuar, no fundo da minh'alma,
Seu estertor.
Seus olhos brilham mais, na escuridão...
Pr'a de todo morrer,
como que espera apenas o segundo
de eu Lhe pedir perdão.»

                  Versos do poema «Cristo» de Sebastião da Gama                (in Cabo da Boa Esperança, Portugália Editora, Lisboa, 1947, p.162).


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A PÁSCOA


O 1º Templo de Jerusalém


Quando o véu do Templo se rasgar
Não permitis que uma vez mais se encerre
Essa estreitíssima passagem
Por minha morte a tanto custo aberta.

Lançai-vos nela sem hesitação
Lançai-vos de mãos dadas através do véu
Num fantástico cordão
Que unirá para sempre a Terra e o Céu.

7/3/2016

                       Fernando Henrique de Passos


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MEDITAÇÃO


«Não fundarei jamais em vós, ó homens perfidos, a minha felicidade: tantas vezes me tendes enganado, que já não ponho em vós os olhos, sem tremer. Que será preciso para grangear as vossas estimações? Os talentos porventura? Não; que vos desafiarão a inveja. As riquezas? estimular-vos-hião a cobiça. Grandeza! talvez? Muito menos, porque vos motivaria ódio. Vós outros perseguis o infeliz, que para perseguir-vos não tem força sufficiente, ou maldade.»

    J.F. von Cronegk [1731-1758], As Solidões e outras peças de gosto (Coligidas e traduzidas por H.M.DD.), Lisboa, 1792, pp.125-126.


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DO TABERNÁCULO AO TEMPLO DE JERUSALÉM


Tabernáculo de Moisés (1200 a.C.),
antepassado  remoto do Templo de Jerusalém


Josué, sucessor de Moisés, entra na terra de Canaã (Josué 10, 12). É uma figura equiparável a Jesus, pois introduz o seu povo na pátria que levaria ao céu.
Ao período dos Juízes do povo, época em que impera a demagogia, sucede o tempo da realiza, a pedido do povo. O primeiro rei será Saul e o segundo, será David, seu adversário político.David torna Jerusalém a sua cidade. A sede do poder localiza-se na fortaleza de Sião e deseja construir um Templo para colocar a Arca da Aliança (do tempo de Moisés) (I Samuel, 8). Morre entretanto. Será Salomão, seu filho, que concretizará o seu desejo (II Samuel 5, 20). Este 1º Templo(1) foi destruído por Nabucodonosor que conquistou Jerusalém em 586 a.C.
Em 515 a.C., depois do regresso do exílio dos judeus em Babilónia, o 2º Templo é reconstruído (Ezequiel, 6 e Salmo 48, 2-3). Será restaurado em 164 a.C. por Judas Macabeu e Herodes o Grande reconstrói-o. Estará concluído em 64 d.C. É o 3º Templo.
Este Templo de Herodes seria destruído após uma revolta dos judeus contra os romanos que lhes resistiram durante quatro anos. Em 70, os romanos destroem este Templo. Foi neste grande Templo que Jesus fez a circuncisão aos oito dias de vida, discutiu com os doutores as Escrituras aos doze anos, castigou os negociantes que adulteravam a casa de Seu Pai e em que orou muitas vezes nas festas religiosas, como a da sua última Páscoa. Resta do Templo de Jerusalém, o célebre muro das Lamentações. 



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ONDE ESTOU, JERUSALÉM?

«Crucificação Branca»,
Marc Chagall (1938)


Escolhi um santuário e o silêncio
assomou em Jerusalém como uma preciosa pérola.
A palavra cresceu redonda e tamanha
em instantes eternos inscritos nas muralhas.
Aqui escrevi uma aliança que esbarrou
nas palavras dos homens. Nas suas ruínas
um novo Templo edificaram.
Oh Jerusalém, minha cidade e meu santuário,
Onde orei e vi e ensinei até à morte,
Onde estão as lágrimas do arrependimento a deslizar?
Onde, a Nova Aliança do perdão sem tempo?
Onde, a via sacra, a cruz e o sepulcro nas tuas ruas?
Onde, a Vida toda para grandes e pequenos?
Onde estou Eu, depois de Ressuscitado?  


11/Março / 2016
(Num tempo de Páscoa)
                                                         Teresa Ferrer Passos



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há muito que estava ali.

a mãe trouxe-o numa cruz
e assim ficou suspenso na parede
para nos guardar

ás vezes olhava para nós
e havia maçãs nas árvores

outras era como se fosse
muito inverno e frio
com laranjas no chão.

um dia o pai e a mãe foram-se
e a nossa casa ficou vazia

então pediu-me
nunca te esqueças de mim.


agora vive no meu coração

 Páscoa/2016                             
                            Carlos Lopes Pires


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«TODO O SANGUE DE DEUS»


«Crucificação» de Mattias
Grünewald  (séc. XVI)


«As coisas estimam-se e avaliam-se pelo que custam. Que lhe custou a Cristo uma alma, e que lhe custou o mundo? O mundo custou-lhe uma palavra: Ipse dixit et facta sunt - uma alma custou-lhe a vida e o sangue todo. Pois, se o mundo custa uma só palavra de Deus e a alma custa todo o sangue de Deus, julgai se vale mais uma alma que todo o mundo. Assim o julga Cristo, e assim o não pode deixar de confessar o mesmo demónio. E só nós somos tão baixos estimadores de nossas almas, que lhas vendemos pelo preço que vós sabeis.»

                        Padre António Vieira, Sermão do 1º Domingo da Quaresma (1653)
                                           

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MENSAGEM GRAVADA NO FUNDO DE UMA GRUTA ANTIQUÍSSIMA


"Cristo na sinagoga de Cafarnaum"
de Maurycy Gottlieb (séc.XIX)


Eu sou o centro da vertigem,
Eu sou o ponto que chama do abismo,
a chave perdida no deserto,
o sol que grita no silêncio,
a luz que sopra sobre a areia,
a seca que queima mil colheitas,
o gelo que fere como facas,
o sonho que à noite te desperta,
a memória que bate à tua porta
quando pensas ser hora de abandono.

Eu sou o sal na ferida adormecida,
sou o chicote que faz a rês andar.
Quero salvar-te do teu destino trágico
mas tu preferes dizer que Eu não existo
a tirar um pé do leito fofo
que te aconchega a carne caprichosa
e te torna tão débil como ela
e como ela fugaz e perecível.

19/3/2016

                    Fernando Henrique de Passos


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«HUMANIDADE DE CRISTO»


Jesus carregando a cruz

«"Vêde-O a caminho do Horto: que aflição tão grande levava sua alma, pois, com ser a mesma paciência, confessa essa aflição e dela se queixa. Ou vede-O atado à coluna, cheio de dores. Sua carne toda feita em pedaços pelo muito que vos ama; tanto padecer, perseguido por uns, cuspido por outros, negado pelos Seus amigos, desamparado por eles, sem ninguém que seja por Ele, gelado de frio, posto em tanta soledade, que um com o outro vos podeis consolar."»

                            Santa Teresa de Ávila (citada por Jeremias Carlos Vechina, «Humanidade de Cristo. Espiritualidade Teresiana» in Revista de Espiritualidade, nº92, Out./Dez., 2015, p.292.

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A NOVA ALIANÇA



«Dias virão em que firmarei nova aliança com as casas de Israel e de Judá [...]. Imprimirei a Minha Lei, gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e Israel será o Meu povo. [...] Todos Me conhecerão, grandes e pequenos, pois a todos perdoarei as suas faltas, e não me lembrarei mais dos seus pecados. Assim fala o Senhor, que manda o sol para iluminar o dia, a lua e as estrelas para iluminar a noite»

                                                                              Jer., 31, 31-35

         
Jerusalém, Muro das Lamentações