quarta-feira, 23 de julho de 2014

A CPLP pode sempre abrir-se a países amigos


A GUINÉ EQUATORIAL
E A COMUNIDADE DE LÍNGUA PORTUGUESA

A Guiné Equatorial reconheceu a língua portuguesa como o terceiro idioma oficial do país, com vista a integrar-se na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Este país pretende aderir à CPLP durante a cimeira de Luanda, ainda que várias personalidades (entre elas Mia Couto, o bispo D. Januário, Manuel Alegre e a Amnistia Internacional, entre outros), se estejam a opor a essa pretensão. Um dos argumentos contra a adesão é o de que o país não tem nada a ver com a língua portuguesa e, além disso, o seu governo não respeita os direitos humanos. 
A partir do decreto do Presidente Teodoro Obiang que classifica a língua portuguesa como a terceira língua oficial da Guiné Equatorial, a integração deste país na CPLP tornou-se um facto incontornável. Foram as naus portuguesas capitaneadas por Fernão Pó que descobriram, em 1472, o território que corresponde hoje à Guiné Equatorial. Esta região, segundo o historiador português João de Barros, já tinha sido motivo de várias expedições de outro navegador português, Fernão Gomes, em anos anteriores. 
Motivações históricas e culturais foram referidas também pelo embaixador cessante da Guiné Equatorial, em Luanda, Eustáquio Nseng Esono. Declarando ser uma decisão meditada, Nseng Esono afirmou que o seu governo aguarda por uma decisão dos Chefes de Estado membros da Comunidade. Explicitando melhor a posição do seu país, quanto a este pedido de integração na CPLP, o embaixador Nseng Esono esclareceu que a Guiné Equatorial pertenceu, desde 1472, a Portugal, por ter sido descoberta por Fernão do Pó. 
A ilha Fernão Pó, hoje chamada ilha Bioco (Formosa), Annobón (Ano Bom) e a costa da Guiné, que formam o território da actual Guiné Equatorial, foram cedidas, mais tarde, pela rainha portuguesa Dona Maria I ao rei de Espanha, Carlos III. A cedência efectivou-se, em 1778, pelo Tratado do Pardo, em troca da metade sul do actual estado do Rio Grande do Sul (território sul-americano). A ilha Bioco é a ilha onde se situa Malabo, a capital da Guiné Equatorial. Singulariza-se esta região africana pelo facto de ser o único país africano de expressão espanhola (Ibérica). 
A integração da Guiné Equatorial na CPLP parece-nos ser, mesmo só por estas razões, uma pretensão não só legítima, como de importante significado histórico para Portugal. E, a isto não devem ser também estranhos, os governos dos países africanos e do Brasil, também eles territórios descobertos por navegadores de Língua Portuguesa. O que é importante é o encontro entre os povos em termos de culturas e de civilizações, seja qual for a língua em que comunicam entre si.*
O governo da Guiné Equatorial acedeu desde já a abolir a pena de morte, e só por isso terá valido a pena o seu ingresso na CPLP.
Portugal, como o país da Europa que se colocou na vanguarda da abolição da pena de morte, em 1867 (a região italiana da Toscana foi a primeira a aboli-la em 1786 por influência do italiano Cesare Beccaria autor de Dos Delitos e das Penas datado de 1764), não pode deixar de se congratular com a aprovação expressa da Guiné Equatorial no conjunto de países da CPLP.

Lisboa, 21 de Julho de 2010
Teresa Ferrer Passos

* Além disso, tal como uma equipa de futebol portuguesa pode receber um jogador de língua espanhola, sem deixar de ser uma equipa de futebol portuguesa, assim também a CPLP pode receber, no seu grupo, um país que não tem como primeira língua o português.  T.F.P. (23/7/2014)

domingo, 20 de julho de 2014

21º Aniversário do nosso primeiro encontro

A PÁGINA


A página roxa desses dias
fez crescer flores amarelecidas
e folhas a perderem-se ressequidas
no meu coração desalentado.
Tinha uma porta entreaberta.
Então, vi-te lá dentro
de braços abertos a chamar-me…
A página roxa destes dias tinha
uma página branca à minha espera.
E comecei a escrever-te em mim…

20/7/2014

                            Teresa Ferrer Passos



ILHA 


Cheguei de noite ao teu dia
Mas não trazia luar,
Nem lua, só poesia.
Deitei ferros na baía,
Tu deixaste-me ficar.

O mar sem tempo dizia
Que nunca houvera outro par
Como nós, nem haveria,
E o areal repetia
Os tempos do verbo amar…

20/7/2014

Fernando Henrique de Passos

terça-feira, 15 de julho de 2014

PHILO - SOPHIA PERENE

Sophia de Mello Breyner Andresen - crayon de Botelho/2007




(avoco, para a Musa, o Ás de Paus como Arcano)

I

Falua a Fada Oriana
E a barquinha ao Luar:
Vejo a Luz, camoniana,
E a Menina do mar.

No coral eu vejo o cor,
Se desvela o velo, a via,
E na amora, eu digo Amor,
O jardim da Academia.

   II

Eis a Obra, eu digo oblata,
Meu Menino era rapaz,
E tu fizeste a Cantata,
Uma oração pela Paz.

Desde os cantos exemplares,
Desde o mar, que és a marina,
E eu avoco aqui os Lares,
O teu manto, e a matina.

E quando os lábios são lume
E a Lira se anuncia,
Tens o Génio, tens o Nume
E tens um nome: Poesia.

Queluz, 14/ 07 / 2014

COOPERATORES VERITATIS

                                                         Paulo Jorge Brito e Abreu   



terça-feira, 8 de julho de 2014

A criança à descoberta do mundo



     O Artemanhas é um projeto de Educação Estética e Artística para crianças que nasceu em 2001, em Cascais, fundado por Madalena Wallenstein.

     Tendo intervindo nos mais diversificados contextos da educação formal e não formal, hoje o Artemanhas desenvolve seis projetos com uma equipa pluridisciplinar que acredita que a educação estética e artística pode contribuir, através da oferta de experiências poéticas, criativas e inspiradoras, para a vida.

     A oficina é para nós um lugar de transformação onde artemanhar é um processo de constante equilíbrio entre a aquisição de linguagens artísticas e a expressão do que guardamos cá dentro, onde o prazer e a motivação nos mantêm suspensos.
     As oficinas de Expressão têm como objetivo desenvolver as potencialidades artísticas inerentes a cada pessoa.
     
     O trabalho lúdico propicia o autoconhecimento ampliando as relações com o exterior e com o outro.

In Internet, Artemanhas

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Bohm's advice


Quando o Espaço esquartejou o Ser
A Eternidade e o Tempo foram separados um do outro
E o Caminho Único tornou-se infinitamente bifurcado

Somos agora obrigados a escolher a cada instante
E as escolhas que fazemos não devem ser as certas
Pois não nos estão a levar ao reencontro


7/7/2014

Fernando Henrique de Passos

domingo, 6 de julho de 2014

Silêncio que avança para mim



«Senhor, como estás longe e oculto e presente! Oiço apenas o ressoar do teu silêncio que avança para mim e a minha vida apenas toca a franja límpida da tua ausência. Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és Tu quem me lês e me conheces. Faz que nada do meu ser se esconda. Chama à tua claridade a totalidade do meu ser para que o meu pensamento se torne transparente e possa escutar a palavra que desde sempre me dizes.»

                                           Sophia de Mello Breyner Andresen

(In Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, Julho de 2014)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

No dia da trasladação de Sophia para o Panteão Nacional

Sophia de Mello Breyner Andresen
 (1919-2004)
«Eu sou uma menina do mar. Chamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me no bico para esta praia. Pôs-me numa rocha na maré vaza e o polvo, o caranguejo e o peixe tomaram conta de mim (...) Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito. Há florestas de algas, jardins de anémonas, prados de conchas. Há cavalos marinhos suspensos na água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores.»

   Excerto do livro de Sophia de Mello Breyner Andresen, A Menina do Mar, Ed. Figueirinhas, Barcelos, 1976, pp.18-19.