domingo, 26 de novembro de 2017

A Restauração da INDEPENDÊNCIA em 1 de Dezembro de 1640


A RESTAURAÇÃO E O IMPÉRIO*

D.João IV - azulejo no Palácio Galveias, Lisboa

   O movimento restaurador da independência nacional levado a cabo com pleno êxito na manhã de 1 de Dezembro de 1640, não constitui exclusivamente um momento de exaltação patriótica contrário à usurpação da Coroa portuguesa pela castelhana. É um facto que, após o malogro das intervenções aguerridas de D. António, Prior do Crato, os portugueses aceitaram a situação político-institucional a que tinham chegado por negligência, por inércia ou por abdicação. Contudo, à medida que os anos decorriam, a submissão ao país vizinho começou a ter largos custos porque as potências inimigas de Castela atacavam o nosso disperso e vasto Império ultramarino.

   Os ataques aos nossos galeões quando estes se deslocavam da Índia para Lisboa, os assaltos às fortalezas onde permanecíamos desde o dealbar do séc. XVI, no Brasil e no Oriente, reduziram para um terço o tráfico com Lisboa, porquanto as especiarias, o ouro e muitos outros produtos dessa rota, eram transportados pelas bem apetrechadas embarcações inglesas, holandesas e francesas. O decréscimo das receitas oriundas do Brasil, de Angola, da Guiné ou de Goa atingiam os interesses da Coroa, da nobreza, da burguesia comercial, do clero nacionais, Os escravos, o açúcar, o tabaco já não constituíam as grandes fontes de riqueza detidas até aos primeiros anos do séc. XVII.

   Entre 1620 e 1630, a situação agravou-se com as perseguições movidas pelos espanhóis e pela Inquisição contra os portugueses estabelecidos no México e no Perú. Com o pretexto de prática de judaísmo, a comunidade portuguesa no Perú foi praticamente dizimada no ano de 1635.

   A investida contra as zonas dominadas por Portugal repercutia-se na situação económica nacional. Sem produzir os bens de consumo indispensáveis, não chegando ao reino as matérias-primas com que se saldariam as contas contraídas com o exterior, o país era sobrecarregado por impostos exorbitantes. Sem uma frota eficiente, com os soldados dispersos pelas frentes de combate de maior interesse para Castela, não auferindo os grupos sociais empenhados nas rendosas tarefas comerciais-marítimas, os lucros provenientes das suas actividades atlânticas e no Índico, gerou-se uma ambiência de descontentamento, a que não foram alheias as categorias populares gravosamente atingidas pelo declínio do seu poder de compra e pelas provocantes arbitrariedades governativas de Castela.

   A crise financeira, eclodindo a partir da década de 1620, era simultânea à derrocada da presença portuguesa no Oriente, em África, no Brasil: em 1622, Ormuz foi tomada pelos persas; Goa foi bloqueada por uma força anglo-holandesa, em 1623; o rei de Achém atacou, em 1629, Malaca. O próprio comércio com o Japão foi cerceado. Entre 1637 e 1638, os entrepostos africanos de S. Jorge da Mina e Arguim foram assaltados pelos holandeses, que no Brasil tinham já tomado as cidades de Olinda e Recife, no ano de 1630.

   O desmoronamento dos domínios além-mar reflectia-se na vida de todos os portugueses sem excepção. Intérpretes do sentimento de frustração que a Nação vivenciava, um grupo de nobres e letrados desencadeou, sob a chefia do Duque D. João de Bragança, a insurreição que iria dar a Portugal a dignidade perdida após a fatídica aventura de Alcácer-Quibir.


Teresa Bernardino**




* Publicado no jornal Consciência Nacional, Março de 1986.

** Heterónimo de Teresa Ferrer Passos.

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