domingo, 30 de abril de 2017

A Fé é concreta ou vem do espírito?

Comentários publicados no Facebook:
  O materialismo do Papa Francisco acentua-se, como fica patente em palavras proferidas numa missa a que presidiu no passado dia 24 de Abril, no Vaticano: «Por vezes esquecemo-nos de que a nossa fé é concreta: o Verbo fez-se carne, não se fez ideia: fez-se carne.» Ou: «Peçamos ao Senhor esta experiência do Espírito que vai e vem e nos leva por diante, do Espírito que nos dá a unção da fé, a unção da concretude da fé». Ou ainda: «O Senhor nos dê a todos nós este Espírito pascal, de ir pelas estradas do Espírito sem compromissos, sem rigidez, com a liberdade de anunciar Jesus Cristo como Ele veio: em carne.» (In Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)
Perante isto, só posso responder com as próprias palavras de Jesus Cristo, «a carne não serve para nada» (Jo 6, 63), às quais acrescento a minha interpretação: Deus fez-se carne não porque a carne fosse boa, mas para nos libertar da carne. Do mesmo modo, o bombeiro desce ao fundo do poço não porque a lama e o lodo sejam bons mas porque só assim pode resgatar o sinistrado que aí caiu por acidente.
30/4/2017
Fernando Henrique de Passos

E o Papa Francisco disse ainda, na mesma ocasião, que «Jesus fez-se carne, não se fez ideia: fez-se carne». Ora, Jesus fez-se carne para que, como Deus, pudesse falar connosco; de outra maneira, não entenderíamos a sua linguagem, não poderia dizer-nos o que devíamos fazer para O seguirmos, como desejava... O excesso de concretismo do Papa Francisco pode, na verdade, levar a graves equívocos.

30 de Abril de 2017
Teresa Ferrer Passos

sábado, 29 de abril de 2017

Jacinta e Francisco e as Aparições de Maria em Fátima



«De facto, a partir dessa experiência, as duas crianças passaram “a estar completamente centradas em Deus: convidados a adorar o Mistério da Trindade, vivem focados no rosto de misericórdia do Pai; convidados a oferecer a vida pelo bem dos irmãos, não mais deixam de ter no seu horizonte o cuidado pelos que mais necessitam, os pecadores; convidados a orar continuamente, passarão a rezar todos os dias o Rosário pela paz no mundo; convidados a consagrar-se a Deus, ao jeito do Coração Imaculado de Maria, viverão as suas breves vidas com a intensidade do Magnificat.»

     Dom Antonino Dias, Bispo de Portalegre e Castelo Branco,(excerto de uma nota publicada no Facebook, em 28 de Abril de 2017)

sexta-feira, 28 de abril de 2017

"Eu, Nuno Álvares"




Palavras de Nuno Álvares Pereira extraídas do romance histórico de Teresa Bernardino, "Eu Nuno Álvares"(Publicações Europa-América, 1987, p.88):


« - Por quanto tempo ainda vos propondes estar a discutir que deve ser o legítimo detentor da coroa? Achais que o prolongamento da nossa indecisão convém à causa da Nação? Não vedes como é nefasto ao prestígio destas cortes dividirmo-nos em partidos destruidores da unidade que raramente tem faltado nos momentos de crise nacional?»

Jacinta e Francisco, santos


   Jacinta e Francisco Marto serão as primeiras crianças não mártires, proclamadas santas. O Papa Francisco presidirá à cerimónia no dia 13 de Maio, sendo a primeira vez que se realiza uma canonização em terras de Portugal ou, mais de acordo com o sentimento popular histórico, em terras de Santa Maria. A palavra de Maria foi ouvida pelos pequenos pastores e logo se tornaram seus discípulos. Na verdade, desde as Aparições, quiseram, com heroísmo inexcedível, obedecer, fazendo tudo o que estava ao seu alcance para a salvação dos pecadores, como pedira a Senhora mais brilhante do que o Sol, a Mãe de Jesus e nossa Mãe.

20 de Abril de 2017
Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Adriano Moreira, um pensamento fulgurante


Adriano Moreira, um grande pensador português da política contemporânea nacional e internacional. Um pensamento fulgurante, entusiástico e perspicaz, com a sabedoria dos seus 94 anos de idade!
27/4/2017
Teresa Ferrer Passos

Onde está a justiça humana?



«De súbito, Pilatos perguntou: "De que acusam este homem?" (Jo 18, 29)
Todos gritam: "Se este o homem não fosse um malfeitor, não to teríamos trazido" (Jo 18,30)
Um malfeitor!
Perdoava com abundância... Semeava a esperança... Deu a vida ao filho da viúva pobre, beijava as crianças...
Um malfeitor! 
É o destino da bondade, quando esta caminha no meio da maldade; um malfeitor... Jesus, meu filho!»

       Angelo Comastri, LAnge m'a dit  - Autobiographie de Marie, Salvador, Paris, 2010, p.88.

terça-feira, 25 de abril de 2017

"Minha infância"

Cora Coralina (1889-1985) - escritora e poeta brasileira

Minha infância*
(Freudiana)

Éramos quatro as filhas de minha mãe.
Entre elas ocupei sempre o pior lugar.
Duas me precederam, eram lindas, mimadas.
Devia ser a última, no entanto
veio outra que ficou sendo a caçula.
Quando nasci, meu velho Pai agonizava,
logo após morria.
Cresci filha sem pai,
secundária na turma das irmãs.
Eu era triste, nervosa e feia.
Amarela, de rosto empalamado.
De pernas moles, caindo à toa.
Os que assim me viam, diziam:
" Essa menina é o retrato vivo
do velho pai doente".
Tinha medo das estórias
que ouvia, então, contar:
assombração, lobisomem, mula sem cabeça.
Almas penadas do outro mundo e do capeta.
Tinha as pernas moles
e os joelhos sempre machucados,
feridos, esfolados.
De tanto que caía.
Caía à toa
Caía nos degraus.
Caía no lajedo do terreiro.
Chorava, importunava.
De dentro a casa comandava:
"-- Levanta, moleirona."
Minhas pernas moles desajudavam.
Gritava, gemia.
De dentro a casa respondia:
-- Levanta, pandorga.
Caía à toa
nos degraus da escada,
no lajeado do terreiro.
Chorava. Chamava. Reclamava.
De dentro a casa se impacientava:
"-- Levanta, perna-mole"
E a moleirona, pandorga, perna-mole
se levantava com seu próprio esforço.
Meus brinquedos
Coquilhos de palmeira.
Bonecas de pano.
Caquinhos de louça.
Cavalinhos de forquilha.
Viagens infindáveis
Meu mundo imaginário
mesclado à realidade.
E a casa me cortava: "menina inzoneira!"
Companhia indesejável, sempre pronta
a sair com minhas irmãs,
era de ver as arrelias
e as tramas que faziam
para saírem juntas
e me deixarem sozinha,
sempre em casa.
A rua, a rua!
(Atracção lúdica, anseio vivo da criança,
mundo sugestivo de maravilhosas descobertas)
-- proibida às meninas do meu tempo.
Rígidos preconceitos familiares,
normas abusivas de educação
-- emparedavam.
A rua. A ponte. Gente que passava,
o rio mesmo, correndo debaixo da janela,
eu via por um vidro quebrado, da vidraça
empanada.
Na quietude sepulcral da casa,
era proibida, incomodava, a fala alta,
a risada franca, o grito espontâneo,
a turbulência ativa das crianças.
Contenção, motivação. Comportamento estreito,
limitando, estreitando exuberâncias,
pisando sensibilidades.
A gesta dentro de mim,
Um mundo heróico, sublimado,
superposto, insuspeitado,
misturado à realidade.
E a casa alheada, sem pressentir a gestação,
acrimoniosa repisava:
" Menina inzoneira!"
O sinapismo do ablativo
queimava.
Intimidada, diminuída. Incompreendida.
Atitudes impostas, falsas, contrafeitas.
Repreensões ferinas, humilhantes.
E o medo de falar.
E a certeza de estar sempre errando.
Aprender a ficar calada.
Menina abobada, ouvindo sem responder.
Daí, no fim da minha vida,
esta cinza que me cobre,
Este desejo obscuro, amargo, anárquico
de me esconder,
mudar o ser, não ser,
sumir, desaparecer,
e reaparecer
numa anônima criatura
sem compromisso de classe, de família.
Eu era triste, nervosa e feia.
Chorona.
Amarela de rosto empalamado,
de pernas moles, caindo à toa.
Um velho tio que assim me via
dizia:
"-- Esta filha de minha sobrinha é idiota.
Melhor fora não ter nascido.
Melhor fora não ter nascido.
Feia, medrosa e triste.
Criada à moda antiga,
-- ralhos e castigos.
Espezinhada, domada.
Que trabalho imenso dei à casa
para me torcer, retorcer,
medir e desmedir.
E me fazer tão outra,
diferente,
do que eu deveria ser.
Triste, nervosa e feia.
Amarela de rosto empapuçado.
De pernas moles, caindo à toa.
Retrato vivo de um velho doente.
Indesejável entre as irmãs.
Sem carinho de Mãe.
Sem protecção de Pai,
-- melhor fora não ter nascido.
E nunca realizei nada na vida.
Sempre a inferioridade me tolheu.
E foi assim, sem luta, que me acomodei
na mediocridade de meu destino.



Cora Coralina



ACERCA DO POEMA "MINHA INFÂNCIA"

  De uma infância torta entre as horas da humilhação e da desdita; a procurar-se sempre e tanto tempo e tanta mágoa e tanta ausência de amor e era apenas e só uma criança. 
Aqui assume-se. Numa idade avançada como Cora Coralina.    Quantas, quantas crianças hoje semelhantes, espancadas, espezinhadas, não escutadas, só por serem criança!
 Este poema de Cora Coralina foi, hoje, publicado no Facebook, por Cecy Carvalho. Trata-se de um poema incluído no livro Poemas dos Becos de Goiás e Histórias Mais. Só em 1965, aos 75 anos, ela conseguiu realizar o sonho de publicar este livro.
   Cora Coralina é o pseudónimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas que sobreviveu muito tempo como doceira para sustentar os quatro filhos, depois de o marido, o advogado Cantídio Bretas, morrer em 1934. Tornou-se conhecida como Cora Coralina, a primeira mulher a ganhar o Prémio Juca Pato, em 1983, com o livro Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha. 

25 de Abril de 2017
Teresa Ferrer Passos









terça-feira, 4 de abril de 2017

PÁSCOA/2017




A INFINITA SOLIDÃO DA CRUZ


A solidão de Deus após se ter tornado
exterior às suas criaturas
durava havia trinta anos
e desde então Ele vivia
tão separado das suas criaturas
quanto elas estão separadas entre si,
totalmente dependente da transposição do espaço
para lhes poder sequer tocar,
e, mesmo assim, tocar-lhes só por fora.

E então, o seu louco amor por todos nós
rebentou em ondas gigantescas.
Olhar, gestos, palavras, pensamentos
brotavam d’Ele num furacão dulcíssimo,
submergiam tudo à sua volta,
abraçavam os seres até à alma,
beijavam a vida até ao coração
e curavam todas as formas de doença
pois todas as formas de doença
provêm de nos termos separado,
de termos passado a viver fora uns dos outros,
de termos passado a viver fora de Deus.

Todavia,
nem todos os homens perceberam,
nem todos se deixaram abraçar.
Nalguns foi mais forte aquele apego
a certos tronos pequeníssimos,
foi mais forte o medo que sentiam
de perder aqueles lugarzinhos
tão perfeitamente demarcados
na absurda vastidão do espaço,
o medo de os verem dissolver-se
numa maré de luz e de ternura.

E esses homens feitos só de medo
prenderam Deus, julgaram-n’O depois,
condenaram-n’O à morte numa cruz
e pregaram-n’O nessa quadrícula de espaço,
no chão da terra do degredo,
tornando-n’O incapaz de se mover
em direção aos seres que tanto amava.

E assim Deus morreu de amor, 
na agonia de se ver tão longe
embora tornado mais próximo que nunca,
igualado a nós na finitude,
igualado a nós na impotência.

… Mas isso foi ontem,
e foi o mistério da Paixão,
a sombra enorme que cobriu o mundo,
transformando o mundo em gruta e útero,
donde, pela força do amor,
nascerá amanhã o Homem Novo,
tornado imortal pelo seu Deus,
pela Sua descida às profundezas,
pela Sua vitória sobre a morte,
pela Sua glória incomparável
como Cristo Jesus Ressuscitado…

Sábado de Aleluia, 2017

                    Fernando Henrique de Passos




DAQUELA NOITE NEGRA É QUE VEIO A VIDA


As nuvens negras entrelaçam a noite
mais escura do que o universo,
mais cruél do que os soldados, na tarde longa.
A noite faz estremecer a cruz, a coroa de espinhos
e os pregos enterrados nas mãos de Jesus.
O olhar vivíssimo, firme e calmo,
revela uma certeza imensa e
também um novo caminho a chegar,
embora devagar.
Há nos seus olhos, sem se fecharem,
uma confiança única.
Uma confiança como ninguém teve, 
nem nunca voltará a ter. 
A mãe, afastada para longe pelos soldados,
olha o filho com a força das lágrimas,
inundada de amor, ela, a dolorosa,
à espera que a vida salte da morte.
Espera a salvação pelo Deus em quem confiara,
no tempo da inesperada Anunciação.

Páscoa, 2017
                                      Teresa Ferrer Passos




creio em ti
e também na água que foi vinho
no pão fermentado do nada
pois tudo é fruto do olhar

e assim
o teu corpo caminhando o mar
como fazem os barcos
em certas calmas noites

os peixes buscando
o descanso nas redes
porque tocados foram
em tuas mãos

como se uma flor
um silêncio
um sinal

          Carlos Lopes Pires




«E Maria continua a falar pelas lágrimas e pela dor (...)
Na verdade, Ela só pode dizer um nome:
Jesus!
Só tem uma certeza a propor:
Jesus!
Só tem um segredo a revelar:
Jesus!
Jesus é a estrada a percorrer e é também o fim a atingir: Jesus é Deus que se fez próximo, mas é também Deus a procurar-nos todos os dias, porque o nosso coração se afastou Dele.
E Maria caminha entre vagas de Ave Maria que se dizem de uma ponta à outra da terra (...), para além das guerras. para além das lágrimas e para além da morte.
Sim, porque a Vida será a última palavra: a Vida eterna partilhada com Deus, oceano inesgotável e incessante da verdadeira alegria, a alegria que todos procuramos»

Angelo Comastri, «L'Ange m'a dit - Autobiographie de Marie», Paris, Éditions Salvator, 2010, pp.137-138 (edição original italiana datada de Milão, 2007).





O GRITO DO TRIUNFO




«Que formosos são, sobre os montes,

os pés do mensageiro que anuncia a paz,
que traz a boa nova, que apregoa a vitória»
Is 52, 7



«Hosana ao Filho de David!

Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor»
Mt 21, 9



Montado num jumentinho, vi-Te.

Entravas em Jerusalém, a tua cidade celeste, aqui na terra.
Vi o teu povo gritar pelo teu nome como Salvador, como o Messias, o Desejado.
Eras realmente Tu, Senhor!
Com os ouvidos a ecoar mil clamores, olhavas as gentes a agitar os ramos da paz e da alegria, e Tu estavas pronto para te entregares por eles.
Com o olhar vago, inteiro e a boa nova a brotar do coração, eras o Filho de Deus em carne e osso, como fora a vontade do Pai.
A cruzares-te com cada um daqueles e já com cada um de nós, seguias devagar para a humilhação da hora transformada em vitória eterna.
Seguias confiante e sem deixares de vislumbrar já, a cruz, à espera do Teu suplício. Pronto para as dores da carne e para os insultos ao espírito.
Seguias para que Te víssemos sem olhar para trás, ontem e hoje e amanhã.
Tu, que eras o Rei dos judeus e o Rei do universo!
Tu, o Filho de David, a entrar em Jerusalém como um vencedor!
Tu, que morrerias como um mortal e eras eterno!
Tu, que eras o nosso Redentor!
Tu, que nos perdoavas sem mais lembrança!
Tu sabias que aquele mesmo povo, te condenaria à morte, sem remorsos!
Tu, o Santo de Deus, inocente e manso, num jumentinho emprestado, no mundo que era todo Teu!


Páscoa/2017

Teresa Ferrer Passos




ENTRE SEXTA E DOMINGO

Conheço bem demais a sexta-feira,
O fim da luz às três da tarde,
A sombra adunca da figueira
À espera do cobarde.

Conheço o cheiro do vinho derramado,
Misturado com fel e com suor,
E o horror do pão que foi pisado,
E o forno vazio e sem calor.

Conheço bem a hora em que as promessas
São um corpo descendo à sepultura,
A hora absurda em que regressas
Da vida que não foi senão futura.

Conheço bem demais a sexta-feira,
Mas tanto a conheço que adivinho
Que traz em si a Vida e a Videira
Que voltará a dar-nos do Seu vinho.

12/4/2014
          Fernando Henrique de Passos




A FESTA DA PRIMAVERA

(Que as Tábuas da Lei, agora,
são a Vida eterna em Cristo Jesus...)

Almo Sol e verde gomo
Nesta calma, no jardim;
Deus Apolo que, no pomo,
É flor d' Alma e carmesim.

Santo é o Céu, santo é o cimo.
Musa amena, vive e espera
Por Museu, esse divino,
Pela eterna Primavera.

Que essas aves, tão canoras,
Vão prà festa das olaias...
Vão - tu sabes? - pràs amoras,
Dança lesta, Amor em Maias.

Ah, que toda esta manhã
Eu vi santa a tua luz!!!
Nesta poda vi deus Pã
Hierofanta, com Jesus.

Mas quando o meu Sol se perde
Na vindima em que me afoite,
Vivo olhando o verde, verde,
Morro em lima, e vem a Noite.

Tomar, Cidade Templária, 25/ 03/ 1995

AD MAJOREM DEI GLORIAM
          Paulo Jorge Brito e Abreu



BOM DOMINGO DE PÁSCOA A TODOS OS AMIGOS!