sábado, 10 de dezembro de 2016

DOSSIER NATAL/2016


Maria Santíssima a mostrar Jesus aos pastores

CONVITE PARA O PRESÉPIO

Pastora, minha colega,
Esta noite é tão estrelada
Que até a alma mais cega
Nela vê uma alvorada.

Pastora, doce pastora,
Anda ver o Deus Bebé
A dormir na manjedoura
Entre Maria e José.

Razão minha desta trova,
Dá-me a mão e vem comigo
Onde nasce a Boa Nova
E se acaba o Tempo Antigo.

Quero ser o teu pastor ─
Casa comigo em Belém
Nessa gruta onde o Senhor
Une o Aqui ao Além.

Tendo Jesus por padrinho
Caminharemos cantando
Por mais pedras no caminho
Que o caminhar vá mostrando.

E muitos anos passados
Sobre esta noite de luz
Seremos também lembrados
Quando lembrarem Jesus…

                         Natal/2016

                 Fernando Henrique de Passos


«O Incompreensível deixou-Se compreender e conter perfeitamente pela pequenina Maria, sem nada perder da Sua imensidade; é também por Maria que nos devemos deixar conter e conduzir, sem nenhuma reserva.»

«O Inacessível aproximou-Se, uniu-Se estreitamente, perfeitamente e mesmo pessoalmente à nossa humanidade, por intermédio de Maria, sem nada perder da Sua Majestade; será igualmente por Maria que nos devemos aproximar de Deus e unirmo-nos à Sua Majestade.» 

«"Aquele que é" quis descer àquele que "não é", fazer que aquele que "não é", se fizesse Deus, ou "Aquele que é"; e fez isto perfeitamente, entregando-Se e submetendo-Se perfeitamente à jovem Virgem Maria, sem deixar de ser no tempo "Aquele que é" desde toda a eternidade».

                        Luís Maria de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, Paulus Editora, Lisboa, 2009, pág.144 (original manuscrito entre 1710 e 1716, ano da morte do seu autor e somente descoberto em 1842).


DA ROSA DE SARON 


(avoco, para mim, o Arcano e Arcaico do Sol de Justiça) 

«ab imo corde», à lilial Maria Azenha 
«in memoriam» de Joséphin Péladan 
ao Mago Merlin, de Tomar 
à Ordem da Milícia dos Cavaleiros do Templo 

«Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; 
tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: 
Conselheiro Admirável, Deus herói, Pai Eterno, Príncipe da Paz.» 
Isaías, 9: 5 


Meu coral, Menino d’oiro, 
Meu zagal sempre a sorrir, 
És Saudade e bom agoiro 
Para o tempo que há-de vir. 

Tive um sonho Nazareu: 
Nós partamos nosso pão 
Para o bárbaro e judeu, 
Para o árabe e Cristão. 

Pois em Nova e Paracleto 
Eis o mar e eis Maria, 
Ele é frol e é dilecto, 
Vem da Cova da Iria. 

II 

E quanto à Luz, que me encanta??? 
Quanto à frol, hierofanta??? 
Meiga e mansa, em mancenilha, 
Em apólogo, e aprisco, 
Em epígrafe ela brilha: 
É Poeta, e é Francisco. 

Tu verás erguer o Santo 
No seu cálamo, acalanto, 
Ser o lídimo, a Minerva, 
E fazer Rainha a serva. 

E tu verás, em Saron, 
Uma Rosa, de bom tom, 
Pois ao leme dos Arcanos, 
Elimina-se o Averno; 
Nós em remos, sorriamos: 
O Natal é sempiterno. 

Que Luz, 08/ 12/ 2016 

AD MAJOREM DEI GLORIAM 

Paulo Jorge Brito e Abreu


TU SENHOR


criaste as flores
e as abelhas

engrandeceste
as coisas simples
e os sinais

deste-nos o que era teu
e deixaste
que usássemos a luz
e tudo o que era abundante

e depois ficámos sós
uns e outros
desmerecendo a água
e as nossas próprias mãos.

e um de nós
que eras talvez tu

elevámos em humilhação
e morte


***

ESTA É A FORMIGA DOS MEUS POEMAS


ela foi amada pelos seus
e por algumas formigas
uma das quais foi sua mãe

e foi maior que tudo
o que tocou

e de tudo fez água
e depois azul

e a todos pôs numa janela
de abrir

para que eu caminhe
para que eu cante

Carlos Lopes Pires

(dois poemas do livro A Minha Poesia é uma Ignorância, a publicar em Fevereiro de 2017)


MEDITAÇÃO

Jesus em agonia no jardim das oliveiras


Pascal argutamente observou:
«Jesus estará em agonia até ao fim do mundo;
é preciso não dormir durante este tempo».
(B. Pascal, Pensamentos, 553)

Mas, neste tempo, aonde agoniza Jesus?
A divisão do mundo em zonas de bem-estar 
e em zonas de miséria... é, hoje, a agonia de Cristo. 

De facto, o mundo é formado por dois compartimentos: 
Num compartimento desperdiça-se
no outro definha-se; 
num morre-se de abundância 
e no outro morre-se de indigência; 
num teme-se a obesidade 
e no outro invoca-se a caridade. 
Por que é que não abrimos uma porta? 
Porquê não formamos uma única mesa? 
Porquê não entendemos que os pobres 
são a cura dos ricos? 
Porquê? Porquê? Por que somos tão cegos? 

Cardeal Angelo Comastri
           
(Via Sacra, IX Estação, Jesus cai pela terceira vez,
presidida pelo Papa Bento XVI,
Coliseu de Roma, Sexta-Feira Santa, 2006)



ORAÇÃO

Jesus nos braços de Sua mãe
  Pormenor da pintura de Adolphe Bougereau (1825-1905)

Ó Maria,
naquele Filho Tu abraças cada filho
e sentes o transe de todas as mães do mundo.

Ó Maria,
as tuas lágrimas correm de século em século
e banham os rostos
e choram o pranto de todos.

Ó Maria,
Tu conheces a dor… mas crês!
Crês que as nuvens não apagam o sol,
crês que a noite prepara a aurora.

Ó Maria,
Tu que cantaste o Magnificat,
entoa-nos o cântico que vence a dor
como um parto do qual nasce a vida.

Ó Maria,
roga por nós!
Roga para que chegue também a nós
o contágio da verdadeira esperança.

Cardeal Ângelo Comastri

(Via Sacra, Décima terceira estação, Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe, presidida pelo Papa Bento XVI, Coliseu de Roma, Sexta-Feira Santa, 2006)


A  BOA  NOVA


«Não nos cansemos de praticar o bem»
Gál. 6, 9

Jesus, o Deus encarnado, ensinou um mandamento novo: «Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros» (Jo 13, 34). Daqui nasce o espírito essencial que percorre todas as suas palavras: Jesus não diz que se ame a Deus ou que amem a Deus, mesmo na Sua pessoa visível. Exige antes que se amem uns aos outros, como Ele nos amou.
      
Ele, Jesus, que revelou o amor de Deus aos seus filhos humanos porque deu a Sua vida por eles, na cruz. Eles a quem Deus conhecia desde o Princípio. Porque Deus sabe que é impossível amar o invisível, sem primeiro ser capaz de amar o que se vê. E é esta a única grande Palavra de Jesus, a palavra do Deus encarnado aos Homens. Na verdade, Jesus, o Filho do Altíssimo, não põe em primeiro lugar um amor abstracto, incorporal, difuso, vago, a Deus.

O que põe como condição para O seguirem é que se amem uns aos outros. Só isso agrada a Deus. Só isso é segui-Lo. Só isso, é salvar-se e poder entrar no seu Reino. Daqui parte toda a palavra nova que Jesus oferece – esta é que é a Boa Nova em relação às Antigas Escrituras.

O amor fraternal entre os Homens está no cimo da pirâmide. Como se pode amar a Deus, que não vemos, sem dar a Deus testemunho de que somos capazes de amar aqueles que estão ao nosso lado? Isto é a pedra angular da missão na terra de Jesus. Este é o sinal que constrói no seu edifício a palavra de Deus.

 O amor fraterno que Jesus indica como a massa com que se deve cozer o pão da Vida, pressupõe a união entre o Céu e a Terra em que avulta a comunhão maior: a comunhão do amor entre um homem e uma mulher: “E os dois serão uma só carne”.          

Natal/2016
                                     Teresa Ferrer Passos     


O NATAL DO HOMEM SEM DEUS



Esqueceu-se donde vem
Esqueceu pra onde vai
Esqueceu qual a missão
Que o trouxe a esta terra
Na qual tantas delícias
E tantos afazeres
O podem distrair
A ponto de esquecer
Que há algo que esqueceu…

Que apego inda o mantém
Na rota que aprendeu
Não sabe já de quem?

15/12/2016
                  Fernando Henrique de Passos




A obra O Anjo disse-me. Autobiografia de Maria do cardeal Ângelo Comastri foi traduzida em França, em 2010, mas continua a não haver uma tradução para português, nem sequer pelas editoras mais vocacionadas para o concretizar. E isto, a poucos meses da celebração do 1º Centenário das Aparições de Fátima a 12 e 13 de Maio, com a presença do Papa Francisco.



«Em cada mãe há algo de Maria, algo desse mistério gratuito do amor que consegue ler o alfabeto da vida e da Bíblia escritos por Deus» (...) «Se falta a mãe, e hoje estamos numa crise de maternidade. devemos perceber todo o risco e a dramaticidade, a civilização cai: não consegue já ler o alfabeto da vida, não se consegue ler sequer o alfabeto da religião, e chega a faltar uma visibilidade de Deus, a visibilidade justamente através da mãe».

Palavras do Cardeal Ângelo Comastri em Roma (no lançamento da sua obra L’Angelo mi disse. Autobiografia di Maria, San Paolo Edizioni, Novembro de 2007.


SANTO NATAL

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O tempo e a eternidade: um silogismo


A destruição da guerra na Síria e a criança perdida

Só é fugaz aquilo que acontece.
Só é eterno aquilo que nunca aconteceu
embora pudesse ter acontecido.

Para haver coisas que nunca aconteceram
forçoso é que outras ocorram em vez delas.

O Tempo é pois altar de um holocausto
em que o Eterno sacrifica as suas vítimas.

(Meu Deus, que compaixão atroz
por tudo o que acontece à minha volta!)


7/12/2016
                                         Fernando Henrique de Passos

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Três poemas de Outono...





FALA DE ORFEU

Eis-me chegado ao âmago das coisas 
Onde todas as almas se entrelaçam, 
Radículas de luz levando o ímpeto 
Que faz mover os astros e os átomos. 

Eis-me chegado ao âmago das coisas 
Onde me encontro com tudo o que perdera. 

Eis-me chegado ao âmago das coisas: 
Falta encontrar Quem me guiou.

13/11/2016

*

ORLA

Meteoritos bêbedos afogam-se no mar,
Fragmentos aos trambolhões pelo céu negro
E que eu não vou salvar,
Primeiros versos de poemas, injuriando o desapego
De quem não os quer continuar…

Mas para quê andaimes de palavras
Quando a Altura responde ao meu apelo
E lança escadarias através do vento
E enfeita com flores o seu cabelo
E me escancara as portas do deslumbramento?

28/11/2016

*

QUASE-REPOUSO

Tudo o que acontece é nova ferida
Novo rasgão num corpo destroçado
Outrora sereno e todo inteiro:
O santo corpo da Eternidade.

(Prouvera a Deus que este poema
Não seja mais que um simples arranhão.)


5/12/2016


Fernando Henrique de Passos