segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Idílio Franciscano


( avoco, para a Musa minha, o Sumo Sacerdote )

À hora dessas rezas, à noitinha,
Afogado em tristezas, e em pena,
Doce luz eu vi, pois, que se avizinha…
Perguntei-lhe: «Quem sois?» - «Meu nome é Lena.»

E tudo era color, ó Rosa minha,
Que à hora do fulgor, a Bela ordena…
Citereia lá vinha, era Rainha,
Que andorinha tu és, e flor amena.

E pois que a meiga branda, em flor de lis,
Demanda, meu Senhor, pela Sophia,
E pois que é deleitosa, e cor d’ Assis

A Rosa numa veiga se anuncia,
Eis Bela, a avena bela, é Beatriz,
Que a flor de anis anelo, e nasce o dia.

Lisboa, 10/ 04/ 1994

AVE MARIA, GRATIA PLENA

Paulo Jorge Brito e Abreu

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Agora, que partiu para a viagem...

Umberto Eco (5/1/1932-19/2/2016)

Nesta singela homenagem ao Romancista e filósofo, recordamos com grande apreço um dos seus mais fascinantes romances. Aqui, as suas próprias palavras:


«Não li tudo de fio a pavio. Certos livros, certos fascículos, percorri-os como se sobrevoasse uma paisagem e, ao sobrevoá-los, já eu sabia que sabia o que estava lá escrito. Como se uma única palavra evocasse outras mil, ou florescesse num resumo alargado, como aquelas flores japonesas que desabrocham na água. Como se alguma coisa viesse por si só depositar-se na minha memória, para fazer companhia a Édipo ou a Hans Castorp.»

      Umberto Eco, «A Misteriosa Chama da Rainha Loana», (romance), Difel, 2005 (1ª edição, Milão, 2004), p.114.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Flor do deserto


                         À Teresa, no aniversário do nosso casamento




Oh flor do deserto, entre areias finas,
Rebento da noite, botão da promessa,
No silêncio negro és tu que iluminas
O espaço vazio que a Lua atravessa.

Mistério da luz que ninguém entende,
Pérola translúcida, espelho sem moldura,
Não temes o tempo pois nada te prende
À miragem cega que a turba procura.

Oásis de cor, sonho de poeta,
Límpida manhã do meu despertar;
Folha de papiro, mensagem secreta,
Raiz profundíssima do verbo esperar…


19 de Fevereiro de 2016

                           Fernando Henrique de Passos

Esperar


                  Ao Fernando, no 22º aniversário do nosso casamento




do alto das torres te vejo mais alto
como um clarão a subir às nuvens
às nuvens que passam sempre devagar.

do alto do rio te vejo descer
até à intempérie de um largo mar
e nele planar no imenso chão.

do alto da sombra te vejo a amar
te vejo a sonhar com nova manhã
e a renascer num céu de mil asas.

19 de Fevereiro de 2016

                                    Teresa Ferrer Passos


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Equilíbrio



                        Jesus todo a mover-se
                        no equilíbrio da Sua vontade,
                        com a força do Pai,
                        sem recusar as mãos do amparo e
                        a sentir nelas o olhar doce de Sua Mãe,
                        Maria Santíssima.

                                      14/2/2016

                                                                         Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Limiar



Se o tempo parasse aqui
No instante preciso da pergunta
Menos que uma fração de segundo
Antes do ponto de interrogação…


(Meio átomo em branco nesta folha,
Metade da unidade indivisível,
Eternidade escondida no possível,
Eternamente pendente de uma escolha.)

11/2/2016
                             Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Dia Mundial do Doente

Teresa do Menino Jesus gravemente doente

«E se Santa Teresa do Menino Jesus defrontou o martírio da sua longa e dolorosa doença com grande coragem e abnegação, o Papa Wojtyla, apesar do seu aspecto desfigurado e da grave incapacidade física, também quis ser exemplo de resistência heróica para todos, designadamente, os doentes do mundo. Como Teresa com o sofrimento a doer demais, Wojtyla foi até ao fim da missão na terra (a que Deus lhe atribuíra), colocando-a, apesar da sua fraqueza extrema, como uma cruz a juntar-se à outra cruz, a de Jesus.»

Teresa Ferrer Passos, «A Actualidade de Santa Teresa do Menino Jesus» in "Revista de Espiritualidade" (Edições Carmelo), nº87, Julho/Setembro 2014, 318-319.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A propósito da proposta de Lei da eutanásia



O sofrimento tem a medida de quem o defronta. Se for grande, podemos minimizar a importância de que se reveste para nós. E, quem somos nós para dizermos que estamos com um sofrimento insuportável? Ninguém pode dizer que o sofrimento que está a vivenciar é insuportável. Porque, quando é insuportável, perdemos a consciência. Logo, ninguém deve decidir sobre a antecipação da sua morte executada por outra pessoa. Se o fizer está a responsabilizar essa pessoa pelo seu assassinato, libertando-se da culpa da execução da acção.

Lisboa, 9 de Fevereiro de 2016

                                                     Teresa Ferrer Passos

A Actualidade de Santa Teresa do Menino Jesus

Teresa do Menino Jesus
no jardim do mosteiro, em Lisieux

«Ela ora em cada momento do dia: fazendo perguntas a Jesus, meditando nas Suas palavras, sobretudo aquelas em que Ele se mostra ávido de amor, Ele que era a imagem do Pai, a imanência do céu, uma face para dialogar e a receber inspiração do Espírito Santo. A oração, um dos pequenos caminhos de Teresa, era uma conversa íntima com a face de Jesus, com a face cheia de carinho da Santíssima Virgem Maria, com o rosto de um santo»

Teresa Ferrer Passos, "A Actualidade de Santa Teresa do Menino Jesus", in «Revista de Espiritualidade» (Edições Carmelo), nº87, Julho/Setembro, 2014, p.311.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Actualidade de Santa Teresa do Menino Jesus

Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face

«A dolorosíssima doença não a consegue esmorecer. Não vacila. E é em pleno sofrimento que escreverá a sua pequena doutrina, um dos seus pequenos caminhos, a que não falta a novidade de um cristianismo terra a terra, revestido de pequenas acções, de pequenos gestos de amor, muito mais do que alicerçado em longas teorias fundamentadas em sofisticadas erudições!»
  
Teresa Ferrer Passos, "A Actualidade de Santa Teresa do Menino Jesus" in Revista de Espiritualidade (Edições Carmelo), nº 87, Julho/Setembro, 2014, p.314.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Amanhecer


A lucidez aguda da manhã
Mostra-me o espanto que espreita da janela
Além do fulgor do sol nascente:
Os olhos de Deus interrogando
O labor insensato das formigas,
As agitadas células cinzentas,
A construção das torres de papel
Que irão alimentar as labaredas
Do astro que reina sobre as trevas.

O cheiro do café recém-nascido,
Tão novo como o dia que amanhece,
Ordena-me que dê mais atenção
À calma dos vapores que lentamente
Sobem da taça até ao céu
Pouco cuidando de saber
Se algum rasto deixam neste mundo.

5/2/2016

F.H.P.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

«Por um Natal Plural»?

A grande mesquita de Meca, o lugar mais sagrado do mundo para o Islão


«(…) O mistério de Deus que une neste dia de festa dois ciclos de calendários diferentes, o nascimento de dois mestres de espiritualidade que deram origem a duas comunidades de crentes», escreve Yahya Pallavicini (Vice-Presidente da Comunidade Religiosa Islâmica italiana) no site católico do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (1). Nesta frase, a importância do nascimento de Maomé (Muhammad) corresponde à importância do nascimento de Jesus Cristo (Natal de Jesus).

Com que critério cristão, publicita, divulga ou oferece aos seus leitores, esta frase redutora de Jesus, ao equipará-lo a um profeta? Ora, Jesus que é, para os cristãos, designadamente para os Católicos, o Filho de Deus, a encarnação de Deus, o Deus vivo (“Eu e o Pai somos um só”), fica no mesmo plano de um profeta, neste caso Maomé? 

Jesus é aqui visto apenas como «um mestre de espiritualidade», tal como Maomé. Ora, Jesus não é, para os cristãos da Igreja Católica (e também de outras Igrejas), apenas «um mestre de espiritualidade», tal como o é Maomé para o Islão. 

Como foi possível que num site internético católico, as duas figuras, Maomé e Cristo, fossem colocadas na mesma ordem de grandeza, chegando ao ponto de até serem equiparadas as duas datas de nascimento (Jesus e Maomé) como «Véspera de Natais»? E a verdade é que o Islão não aceita Jesus como divindade salvífica e redentora de todo o ser humano...

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura ao considerar este texto um modelo das boas relações entre católicos e islâmicos, admite uma abusiva comparação que põe em causa a divindade de Jesus. Bastou para tanto publicitar este texto do Vice-Presidente da Comunidade Religiosa Islâmica italiana, reproduzindo-o precisamente na ante-véspera do Natal de Jesus, o Deus que se fez homem.

4 de Fevereiro de 2016

                                                            Teresa Ferrer Passos


(1) Este texto foi publicado em 23 de Dezembro de 2015.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A Lagoa Secreta


Lírio de água na lagoa


                                                                                   à Teresa

Pétalas transparentes no fundo de um lago profundíssimo.
É tudo tão límpido que a custo posso ver.
A luz provém do interior de cada gota de água
E cada pétala tem palavras numa língua muito antiga.
Nadamos de mãos dadas
Enquanto esperamos que o nosso olhar se acostume à nova                                                                                             [claridade.

1/2/2016

                                     Fernando Henrique de Passos