domingo, 31 de janeiro de 2016


"Viver o momento presente, na certeza do amor gratuito de Deus Pai, tornou-se ao longo dos séculos um dos pilares da espiritualidade cristã. O ensinamento dos santos, especialistas na qualidade de vida, não deixa dúvidas: “Tu sabes, ó meu Deus - repetia Santa Teresinha – que para te amar sobre a terra só tenho o dia de hoje”. E acrescentava: “Ocupemo-nos unicamente do momento presente. Cada instante é um tesouro”. Não há ações grandes e ações pequenas. Todas e cada uma têm um valor infinito aos olhos de Deus."

Darci Vilarinho, Facebook, 31/1/2016

sábado, 30 de janeiro de 2016

Estação arqueológica


Pacato passeio entre cometas,
Chuva de estrelas ao retardador,
Caminho de pedras em lago de exegetas,
Rosas florindo num computador.

Calma estação do escrutinar noturno,
Telescópios apontando prata,
Verberações de Vénus e Saturno,
Trémulo delírio da Ciência Exata.

Doces camadas lânguidas de indícios,
Inúteis redundâncias do passado,
Já quase mostram o código aguardado
Do espaço dos sóis e precipícios.

 29/1/2016

Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

1º Centenário do Nascimento de Vergílio Ferreira

Casa onde nasceu Vergílio Ferreira, em Melo (Gouveia)

«Era a alegria, a vida inteira ali. Inteira perfeita, mas não eras só tu. O teu corpo não era só tu. Havia nele o mar e a areia e tudo o que convergia para a tua vitalidade a transbordar. Porque um corpo perfeito, querida, precisa de muito espaço à volta para irradiar a sua perfeição. Deus está em todo o lado por isso. Havia uma ligação de ti com as coisas, com as mais distantes, para se cumprir a tua divindade.»

Vergílio Ferreira, Em nome da terra, Bertrand Editora, Lisboa, 1990, p. 56.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

As ideias feitas a corromper a arte


«A palavra kitsch designa a atitude daquele que quer agradar a qualquer preço e à maioria. Para agradar é necessário confirmar aquilo que toda a gente quer ouvir, estar ao serviço das ideias feitas. O kitsch é a tradução da patetice das ideias feitas para a linguagem da beleza e da emoção (...), Passados cinquenta anos, hoje, a frase de [Hermann] Broch torna-se ainda mais verdadeira. Dada a necessidade imperativa de agradar e de obter assim a atenção da maioria, a estética dos mass-média é inevitavelmente a do kitsch; e à medida que os mass-média abarcam e infiltram toda a nossa vida, o kitsch transforma-se na nossa estética e na nossa moral quotidiana» 
                   Milan Kundera, "A Arte do Romance", Publicações D. Quixote, 2ª edição, 2002, p.186.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Deus e o Homem


Tudo o que Jesus Cristo deixou dito é de infinita importância, mas conforme a inclinação passageira dos nossos pensamentos, assim damos mais importância a uma ou a outra passagem dos Evangelhos.

Há dias, dei por mim a reparar, como se o fizesse pela primeira vez, no facto de Jesus nos ensinar a ver Deus como Pai, espantando-me ao descobrir aí um sentido que sempre conhecera mas que me parecia agora inauditamente novo e de fulcral importância para a nossa vivência do cristianismo.

Para explicar o que se passou comigo, tenho de recordar uma antiga imagem de Deus, tão antiga como o Antigo Testamento, e que ainda hoje não está completamente erradicada. Que fique bem claro: nunca os grandes santos viram Deus como o vou descrever de seguida, mas infelizmente a Igreja não é constituída apenas por grandes santos e por isso, ao longo dos séculos, muitas vezes os cristãos foram convidados a ver Deus como um ser infinitamente superior, ao pé do qual não valeríamos nada e que não precisaria de nós para nada.

Ter esta imagem de Deus só pode conduzir a dois desfechos, qualquer deles mau: ou a um sentimento interior de humilhação e revolta, que mais tarde ou mais cedo termina no ateísmo; ou a uma relação patológica com Deus, de tipo sadomasoquista.

Jesus vem evitar estas duas consequências perversas daquela imagem errada de Deus, ensinando-nos que Deus é Pai. A relação entre um pai e um filho, mesmo sendo uma relação de tipo “vertical”, por haver superioridade de uma das partes em relação à outra, não tem forçosamente de envolver algo de humilhante para o filho (e nunca envolveria, se todas as relações entre pais e filhos fossem saudáveis). Particularmente nos anos de mais tenra idade do filho – e talvez sejam esses os que devemos ter por modelo da relação entre Deus e o Homem – a dependência é máxima mas o carinho é também máximo.

Esta analogia pode apontar ainda outro aspeto. Se Deus quisesse que nos sentíssemos inúteis, que sentíssemos a nossa existência como uma mera esmola, então o seu amor não seria muito perfeito. Mas um pai pode precisar de um filho de mais que uma maneira, e não apenas como objeto aonde dirigir a sua necessidade de amar. Do mesmo modo, muitos de nós acreditamos na existência de um projeto em que Deus não precisa menos da colaboração do Homem do que o Homem precisa da colaboração de Deus.

Não nos humilhemos mais do que o necessário. A macabra imagem do “Deus-tirano” e do “homem-verme” já afastou do cristianismo demasiados seres humanos, além de que nenhuma palavra de Jesus Cristo a legitima.

19/1/2016

Fernando Henrique de Passos

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Linhas de um dos seus romances...

Vergílio Ferreira (1916-1996)

«Debruçámo-nos da janela e o mar existiu logo na transcendência de nós, no sem-fim espraiado e todavia apaziguado da sua inquietação. Víamo-lo em baixo, aberto de toalhas rendadas de espuma para o invisível da graça que devia sorrir em nós. E havia o azul intenso da sua origem. E havia em nós o silêncio para tudo poder falar»

           Vergílio Ferreira, «Na tua Face», Bertrand, 1993, p.184

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Nascer



A vida a soltar-se das amarras
como se fosse um Sol...
Nesse instante primeiro e derradeiro,
no choro grande e vago de nascer, foste menino.
E foste enfeitiçada onda de marés vivas,
foste a ternura da espuma,
foste, sem saber, praia de um novo tempo.

14/Janeiro/2016

                                            Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Livros

Gabriela Mistral, Nobel da Literatura, 1945

«Livros, ó mudos livros das estantes frias,
vivos no seu silêncio, ardentes na sua calma;
livros, os que consolam, veludos da alma,
e que sendo tão tristes nos dão alegrias!»

   Do poema "Os meus livros" de Gabriela Mistral (1889-1957)

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A solidão da arte


"As obras de arte são de uma solidão infinita: para as abordar, nada pior do que a crítica." («Cartas a um Poeta», Portugália Editora, Lisboa, s/d, p.30)

                                             Rainer-Maria Rilke (1875-1926)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A queda


Nunca pares para celebrar um êxito,
Grande ou pequeno seja ele.
A Eternidade jamais se imobiliza –
Parar foi o pecado que gerou o Tempo.

8/1/2016

Fernando Henrique de Passos

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Os Magos do Oriente

Os magos do Oriente pagão adoram o Salvador

E uns magos do Oriente, que conheciam os segredos dos astros, leram, ao observá-los, que tinha nascido na região de Jerusalém uma criança que viria a ser o Rei dos judeus e Salvador do mundo.

A noite estava fria, mas resolveram não perder um instante do tempo. Um tempo novo chegara sem esperarem. Só os astros cujas leis estudavam nas longas noites estreladas, lhes revelaram tão alta chegada. E o tempo até podia ser escasso para a viagem distante em busca do divino Menino. 

Como O desejavam conhecer e prestar-Lhe um juramento de fidelidade, puseram-se a caminho com alguns presentes, seguindo uma estrela a brilhar com mais intensidade do que as outras.

Era já longa a noite quando a estrela com brilho ainda mais intenso, iluminou um estábulo de animais. Bateram à porta e viram o Menino nos braços de Maria, Sua mãe, a sorrir, como se os conhecesse havia muito tempo.

Então, cheia de alegria por O ver sorrir-lhes, disse: “O Menino é o que procurais, o Salvador do mundo que nasceu também para vós, Magos do Oriente!” 

Dia de Reis/2016

                                                             Teresa Ferrer Passos

sábado, 2 de janeiro de 2016

Página...


Na incerta página dos dias
cresce uma ideia nova,
pronta a florescer como uma semente morta.

1/1/2016
                                        Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A jovem mulher rejeitada



Aquela mulher jovem viu-se rejeitada até ao ser,
ao falar do seu pecado.
Inscrita na sua alma ficava toda a punição.
À humilhação não escapava no espaço sacro,
alargado à vasta populaça.
Sentiu-se como lama pisada,
ela, que dissera a verdade.
Nesse instante, ouviu uma voz a vir do Céu:
"Entrarei hoje mesmo dentro de ti,
foste capaz de não ser hipócrita,
como outros que puderam comer o meu Pão,
sem falarem do seu pecado"


1 de Janeiro de 2016
                                                                         Teresa Ferrer Passos